sexta-feira, 15 de abril de 2011

Olá

-Olá.
Amo toda a gente e odeio toda a gente
-tudo bem?
Conheço muito bem toda a humanidade porque me conheço bem
-Olá
Há que medir muito bem o que somos, o que mostramos ser e ter a consciência do que esperam de nós
-Olá!
Há tantos sonhos que me parecem reais e tantas partes da realidade que me parecem sonho
Tudo pode ser uma coisa ou outra
-Tudo bem e contigo?
Posso até estar morto que me parece igual a estar acordado ou a sonhar
(normalmente tudo isto se me apresenta como uma única coisa)
-Também, obrigado
As coisas aparecem-me à frente sem eu procurar e quando nada me procura eu sinto que devia procurar qualquer coisa mas não me mexo. A realidade agarra-me as pernas com a força de um deus e chupa-me o cérebro com a qualidade profissional de uma puta
-Temos de combinar qualquer coisa!
As relações humanas são mais estranhas do que as relações humanas do Tchekhov e tão banais e práticas como as dos macacos
-Vai dizendo coisas...
A qualidade e a inteligência podem ser tão relativos quanto o sabor de gelado preferido de uma pessoa
-Claro que sim!
Os sonhos e os amores são coisas que parecem sempre enormes e que normalmente não passam de segundos
E de repente a vida é como um sonho ou um amor que desaparece num segundo
De repente acordas e já não é nada
já não sentes nada
-Então vá...
E logo a seguir és Deus e és O homem e és mais poderoso que o tempo
-Desde que nasci sou só um moribundo
-Então vá...
-Amo toda a gente e odeio toda a gente
-Afinal não te conheço
-Vai dizendo coisas...
-Claro que sim...!
Há que medir muito bem o que somos, o que mostramos ser e ter a consciência do que esperam de nós
Se a vida me telefonasse agora dizia-lhe "olá" ou "adeus"? ou dizia-lhe "vai dizendo coisas?" ou será que lhe dizia que agora estou sem tempo para ela ou será que lhe dizia que ela é tão inexistente quanto deus mas que, apesar de tudo, me diverte de vez em quando?
A vida é a puta e eu um cliente exigente e falido
exigente e sem forma de pagar
Queria pagar dizendo coisas porreiras mas só tenho a dizer coisas sem sentido
Só consigo responder na mesma moeda
-Estás-me a despachar?
-Claro que sim!


-Olá? Olá...?!




quarta-feira, 6 de abril de 2011

HOW THE HELL DID WE GET HERE SO SOON?!

É difícil começar a escrever
Mesmo quando estou cheio de ideias
é difícil começar a escrever
E mesmo quando ponho a música no repeat
É difícil começar a escrever
Tantos travões
tantas distrações
tantos espaços vazios entre as palavras
tantos espaços vazios na minha vida
tanta tentativa de amor a disfarçar o nada
Tantas músicas ocas a disfarçar o silêncio das respostas de amor que não são nada
Ela diz-me para ter cuidado e ir devagarinho
E ela é a minha cabeça
Ela diz-me que eu estou a fazer tudo mal
E ela é a minha cabeça
Ouço as músicas dela e os pássaros a acordar lá fora e o sino lá fora que (sabe-se lá porquê toca de meia em meia hora)
Mesmo no verão os sinos são trovoadas na minha cabeça e eu não quero ter cuidado
Se a música conseguir disfarçar o vazio que disfarce
E se o nada conseguir ser bêbedo é bem-vindo
A verdade é a maior puta porque custa caro e não pode mentir
A minha inércia é a maior verdade no dia a seguir
E a música no repeat não para o tempo
não para os tempos
nem o nosso destino em comum
Se a morte é a única coisa que temos em comum vamos morrer juntos
E se a vida nos separa vamos morrer juntos
E se as palavras ocas nos juntam vamos viver felizes
E se a felicidade não existe vamos beber até conseguir disfarçar
e se disfarçar não for suficiente vamos morrer.
Mas vamos morrer juntos.
A vida no repeat não funciona
Os acordes são sempre mais pesados na versão seguinte
E os violinos na minha cabeça podem-se transformar em violinos mendigos nas ruas de Lisboa
E os tambores podem parar no meu peito
E quando isso acontecer quero um concerto de todos os instrumentos no teu corpo
e um esquecimento total da minha banda.
A depressão é a forma gourmet da felicidade
E a nova inteligência é a auto-pena
E a auto-pena é a antiga desculpa para o amor
Não tenho medo
acredito nas pessoas
nas minhas pessoas
acredito que ninguém tem razão
(não acredito na razão)
Acredito na cerveja e na persuação
(não acredito na verdade)
Acredito na distância
Acredito na morte
Acredito em ti e em nós
E acredito nos hamburgers da McDonald's.
Mesmo quando se acabam as ideias,
mesmo quando mudo a banda sonora,
É muito difícil acabar de escrever.