quarta-feira, 29 de agosto de 2007

PLATEAU AND TALK SHOW HOSTS

-Gosto muito mais de ti em cena do que na vida real.
Nunca tinha falado com ela assim.
Há três dias ligámos a curta distância que vai de uma cadeira para um palco que tinha estado sempre entre nós.
Exactamente no momento em que eu pensava que o meu reconhecidíssimo poder persuasivo perante as mulheres estava a resultar sobre ela, ela disse-me,
-Gosto muito mais de ti em cena do que na vida real.
A verdade é que nem sequer sei porque é que estou a escrever este texto.
A verdade é que há três dias que não consigo parar de pensar insistentemente,
-Gosto muito mais de ti em cena do que na vida real.
A verdade é que ando há três dias a pensar insestentemente neste texto sem conseguir sair da sua primeira frase,
-Gosto muito mais de ti em cena do que na vida real.
Há um cliché teatral que eu costumo repetir às actrizes mais receptivas ao meu reconhecidíssimo poder persuasivo perante as mulheres,
-O bom do teatro é poder sermos em cena alguém que nunca seremos na vida real.
...
Na tua insistente burrice disseste uma coisa estranhamente inteligente
Demorou a digerir
Demorei três dias a perceber que concordo contigo
A verdade é que,
-Também gosto muito mais de mim em cena do que na vida real.




"I want to, I want to be someone else or I'll explode
Floating upon the surface for
The birds, the birds, the birds"


"M
any a hand has scaled the grand old face of the plateau
Some belong to strangers and some to folks you know
Holy ghosts and talk show hosts are planted in the sand
To beautify the foothills and shake the many hands

There's nothing on the top but a bucket and a mop
And an illustrated book about birds
You see a lot up there but don't be scared
Who needs action when you got words"



sábado, 25 de agosto de 2007

The innocent crimminal

Quero escrever
Não posso escrever
Se eu penso morro
Se eu escrevo sem pensar morro
Morro de qualquer maneira, não é?
Se eu parar para pensar morro
Não aguento pensar e parar é morrer, certo?
Tenho a má sorte de não ser um desportista, uma pessoa que não tem tempo de parar para pensar,
-Foda-se, nada disto vale a pena
A má sorte é que não posso ser mais nada senão um ser pensante, um ser que que não consegue pensar em mais nada senão,
-Foda-se, nada disto vale a pena
O pior é que sou uma pessoa de sorte
Sou uma pessoa que sabe que tem tudo o que um homem precisa de ter para ser feliz,
-isso tudo, etc, etc, etc...
Uma pessoa que mesmo tendo tudo, isso tudo, etc, etc, etc... tem a noção de que nada disso vale a pena
Ou pelo menos não me aptece ter trabalho para que tudo isto valha afinal a pena
Essa triste pena de ter isso tudo, etc, etc, etc... e mesmo assim não conseguir deixar de pensar,
-Foda-se, nada disto vale a pena.
Juro-te, adorava acordar um dia e pensar... pensar que vale a pena levantar-me da cama, comer o croissant torrado com fiambre, fumar um cigarro, tomar banho, ter vontade para escolher a melhor roupa só para ter o prazer e a certeza de que vale a pena sair de casa para beber um café.
Quero escrever
Tenho vontade de escrever
E tenho um medo pavoroso de parar um bocado para pensar em alguma coisa para escrever
Porra, eu nem sequer quero escrever, o problema não é escrever, o problema é a depressão eternamente ligada à inteligência
Confesso: Nunca fui inteligente.
O pior é não ser inteligente e ter a inteligência necessária para ter a certeza absoluta de que,
-foda-se, nada disto vale a pena



"Why can't we not be sober?
I just want to start this over.
And why can't we drink forever?
Just want to start this over."

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

O VERÃO EM CASCAIS

Acho
Acho
Acho completamente depressivo estar aqui
va lá
gosto da sensação de estar longe de casa e pensar,
-quem me dera estar em casa e ouvir aquela música
e escrever isto que me aptece escrever
com aquela música
Agora estou em casa e as músicas só duram dois minutos
duram muito mais quando estou longe
os pensamentos também
as frases e as ideias também parecem sempre muito melhores
chego a casa e não há nada
va lá
há aquele cheiro típico que cada casa teima ter
há a minha mãe a dizer,
-estás bonito estás.
Há o meu pai mais bonito que eu
há as colecções de bujigangas na parede
há a televisão no canal desportivo
há os cigarros apagados no cinzeiro
há a minha irmã a gastar fortunas ao telefone
mas va lá va lá
as ideias foram-se todas
e as musicas só duram dois minutos.
Acho
Acho
Acho que vou sair de casa agora
-Até ao fim da linha!... - disse Ângelo.
-Põe-te a voar!... - respondeu-lhe o condutor, apontando com um dedo para o céu.