segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

(se eu me alimentar bem não hei-de morrer tão cedo)

Há manchas no meu tapete
E tenho um armário personalizado
E palavras na minha cabeça
E uma ventoinha estragada no chão que não sopra as palavras para fora da minha cabeça
Tenho uma lâmpada apagada na minha alma
E os colunas a funcionar nos meus ouvidos
Tenho cieiro nos lábios e os lábios fechados, juntos, a namorar um com o outro.
Tenho o Bob caquético nos meus ouvidos e o decote arrojado da Scarlett nos meus olhos
Há tapetes por onde ando e repetições sem sentido na minha cabeça
Tenho o meu peito e o meu cérebro fechados, separados, a lutarem um contra o outro.
(se eu me alimentar bem não hei-de morrer tão cedo)
Tenho uma janela aberta no meu escritório e um quadro velho e ao contrário no meu chão
Tenho manchas personalizadas
E palavras na minha cabeça
E uma ventoinha estragada no chão que não sopra as palavras para dentro da minha cabeça
Há tapetes por onde ando e repetições sem sentido na minha alma
(se eu me alimentar bem não hei-de morrer tão cedo)
Tenho um copo vazio na mão e uma perturbação na secretária
Tenho uma caixa Frágil no meu chão
e o chão frágil nos meus pés
Tenho sede
Não!
Tenho fome
(se eu me alimentar bem não hei-de morrer tão cedo)


domingo, 27 de fevereiro de 2011

ATÉ JÁ

Já é muito tarde e tenho medo de ir dormir
Daqui a nada é muito cedo e vou ter medo de acordar.
Num espaço de meia hora a cerveja transforma-se n'Um Bongo de laranja e os gemidos do Tom Waits nos gritos irritantes de um despertador.
Estou entre o adormecer e o acordar.
Entre o que eu queria ser e o que sou.
Entre o Ser ou não ser.
Entre qualquer coisa boa que eu não sei bem o que é e qualquer coisa horrível que já é o meu lugar comum.
Estou entre a vaidade da satisfação do conhecimento da minha própria qualidade e a frustração do saber do que nunca serei capaz.
Estou entre o adormecer e o acordar e se não paro com isto vou estar já no acordar sem nunca ter conhecido o adormecer (e eu não quero o Tom Waits como despertador).
Quero adormecer sem dar por isso e acordar com croissants e sumo de laranja em cima de mim.
Ponto final


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DEVIA TER VERGONHA DE POSTAR ISTO

Doces, palavras, copos e masturbação
Tenho um bocado de vergonha de cantar esta canção

Os dias vão passando e só falo com o papel
O meu melhor amigo é o jack daniel

Sonhava com mulheres, carros e foguetões
Acabei nesta barraca a contar os meus tostões

Doces, palavras, copos e gajas boas
Tenho um bocado de vergonha de falar com as pessoas

Daqueles dias que bebemos tanto que ficamos submersos
Ainda assim tenho vergonha de te mostrar estes versos

Mais vale ir para qualquer sitio mesmo sem saber para onde vou
Tenho um bocado de vergonhar de te mostrar quem eu sou

Copos, políticas, futebol e cama
Tenho um bocado de vergonha de como passo o fim-de-semana

Os dias vão passando e só falo com o papel
O meu melhor amigo é o jack daniel

Sonhava com mulheres, carros e foguetões
Acabei nesta barraca a contar os meus tostões

Não era nada disto que era suposto eu estar a fazer
Acho que vou ter um bocado de vergonha de morrer

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

APAGAR É O NOVO ESCREVER

Já escrevi pior
Já pensei muito melhor
e as oitenta e oito linhas que eu decidi apagar deste texto
É tudo o que isto implica
E estava tudo a mais.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O QUE ME ATORMENTA É O MUNDO A HUMANIDADE E AS MULHERES

Que longa forma de tentar continuar
que longa continuação de um suposto sofrimento que
(eu sei)
vai acabar num
-amo-te

que longa dor a dor de não ser daqui
-o meu mundo está fora do mundo
disse eu num carro.

Que longa forma de tentar continuar esta que ao adormecer só vê pesadelos e gritos ao acordar

Tudo na minha secretária cai

Tudo na minha vida fala francês e eu não percebo nada

Dizem-me que eu sou isto por causa disto e aquilo por causa disto mas o mundo não é um tubo de ensaio e eu não sou um rato de laboratório nem sou um laboratório de emoções nem sou emoções escondidas por de trás de uma piada mas, segundo maior parte do mundo, sou, de facto, uma piada

"Ninguém é quem queria ser"

Eu não queria ser ninguém, nem uma fachada, nem nada.

Queria ser alguém que olha de cima e sorridentemente para um Zoo e não ser o Zoo

"Mas ninguém é quem queria ser"

Enquanto uns se divertem a conseguir continuar eu contento-me com o pesadelo de ter de sonhar

Dói mais não ser nada para os que sonham ser felizes do que para os que não são nada felizes

-O meu mundo está fora do mundo
disse eu num carro

Mas as minhas ideias transformaram-se só em devaneios de um bêbedo histérico e as minhas bebedeiras são só a chama de um bobo e a raiva de um triste e a tristeza é confundida com a bebedeira e os devaneios perdem interesse e passam só a ser os tropeções de uma piada. Segundo maior parte do mundo, sou, de facto, só uma piada

Se eu percebesse francês talvez percebesse a minha vida
Se eu não sonhasse talvez a minha secretária se mantivesse intacta
E se eu tentasse conseguir continuar talvez conseguisse foder (todo) o mundo e ser feliz

Que longa forma de tentar continuar
que longa continuação de um suposto sofrimento que para mim
(eu sei)
vai acabar num
-Eu não sei nada disto.

O que me atormenta é o universo, a humanidade e as mulheres
(que por coincidência são também as três coisas que mais me interessam)
Eu não sei nada delas,
Tudo na minha secretária cai, quando quase a consigo ver a tentar conseguir continuar e a ouço a dizer a outro
-amo-te

(seria tão mais fácil se o meu mundo estivesse completamente fora do mundo).