quarta-feira, 24 de junho de 2009

Não há nada mais para além das mil linhas que eu já escrevi hoje
Só espero que seja só a minha memória que me atraiçoa
Não há nada mais perfeito do que o fumo a sair dum cigarro num cinzeiro sem vento
Como o fumo sem vento
Como o fumo sem vento há algo que nos faz mexer
Havemos de morrer num cinzeiro
Ouve,
Não somos mais que cigarros!
Não somos mais do que nada
Não somos sequer espumantes
E não conseguimos sequer ser felizes imaginado que somos champanhe!
Não olhes para trás no sol
Não vejas o teu reflexo no reflexo dos teus óculos escuros
Tu tens mil linhas para serem estudadas numa noite!
Não há nada mais para além das mil linhas que eu já escrevi hoje
Ouve,
Uma metamorfose não acontece nos tempos do kafka
E um ser ou não ser não se decide num solilóquio
Ouve
Tudo tem um tempo de um cigarro
Ouve
Um cigarro tem o tempo de mil linhas escritas numa noite
E eu
Eu quero fumar sempre,
Para sempre!
Vidro.
Para mim não há nada mais do que o vidro
Nada tão sensivel
Nada tão curtante
Nada tão duro quanto o vidro
Hoje curtei-me com o vidro e curei-me com o fundo do vidro
Não há nada mais que vidro no aço em nós
Vês discórdia onde eu vejo amor e vês facas onde eu vejo vidro
Ouço palmas
Ouço palmas
As mesmas palmas pelas quais te apaixonaste
As mesmas palmas das mãos que agora fazes questão em colar
Para mim não és mais do que vidro
Algo que leva algo e que mesmo com algo se pode facilmente partir
O plastico não
O plástico é indestrutivel e eterno
Modificavel mas eterno
Inquebravel mas eterno
Tu és vidro
Tão vidro quanto o copo que não queres ver na minha mão
Tu és vidro
E eu não te quero partir
Juro que não te quero partir
Ouve, ouve, ouve,
-Deixa-me ser vidro também!