domingo, 30 de novembro de 2008

Eu já estou como o Lobo Antunes
Sinto-me culpado se não escrevo.
Mas eu
(e isto já não é obviamente Lobo Antunes)
Sinto-me mais culpado a escrever a merda que escrevo.
Se ao menos por um segundo conseguisse deixar de ouvir os ponteiros do relogio...
Ah, mas o genuino e o genial estão tão longe um do outro
Vejo pessoas felizes
pessoas a dizer
-Estás sempre chateado
Vejo pessoas a rir
Dizia o Negreiros
-O riso é a prova sonora da estupidez
Pessoas a dançar em discotecas
Digo eu
-A dança é a prova física da estupidez
Sinto
minto
Sei que a minha vida começou pelo fim
e Sei
minto
Sinto que vai ficar sempre na mesma
E...e... e não tenho um único segundo em que não ouça os ponteiros do relógio
E...e...e isto não me deixa ser, percebes?
Não me deixa viver
Quero dizer viver no sentido de simplesmente me deixar existir
Todas estas certezas do fim
Do final completo sem mais nada lá em cima
Eu no espelho:
Uma cara,
uma caveira,
pó,
nada.
E...e...e... quero gritar tudo isto e quero dar um tiro na minha cabeça para o meu corpo ser.
Ser simplesmente
E quero gritar isto tudo e não consigo:
Porque,
Há sempre os ponteiros do relógio
A culpabilidade de fazer a merda que faço
E o ridículo de trocar todos os prazeres da minha vida por uns cinco mil anos que nunca vão chegar a existir.
Eu já estou como o Lobo Antunes
Sinto-me culpado se não escrevo.
Mas eu
(e isto já não é obviamente Lobo Antunes)
Sinto-me mais culpado a escrever a merda que escrevo
A dança é a prova física da estupidez

sábado, 29 de novembro de 2008

A ANGÚSTIA DO HOMEM NO TEMPO

Se por um segundo conseguisse deixar de ouvir os ponteiros do relogio...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"Se viver já é difícil o Teatro é muito mais"


Maria Camões

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

ETERNAS REPETIÇÕES DIFERENTES (hoje. Cinco anos depois)

Não vivemos em tempos de lamechices
Guardar
Guardar tudo para dentro
Nunca danificar o estilo
E nunca
Mesmo nunca sequer pensar em chorar porque
Como disse
Não vivemos em tempos de lamechices
Pa, sinceramente, começo a ficar um bocado farto da minha escrita
Sempre a mesma tragédia de lava-louça
Sempre os cigarros e o álcool
Sempre as repetições
As idiotas repetições
Que efeito giro as repetições
Sempre o mesmo
"ah, deixa-me cá por para aqui uma frase genial, profunda e lamechas para deixar o leitor de boca aberta"
Porra! Já não vivemos em tempos de lamexices
Ai, ai... já não vivemos em tempos de repetições
E depois a morte
Sempre a puta da morte
Pa, sinceramente, quem é que se dá ao trabalho de vir ler isto?
É que eu não leio!
Arranjem uma vida!
Leiam Shakespeare pa, Goethe, Jorge Luis Borges, Tolstoi, o jornal Record, a revista Maria
Tudo,
Tudo,
Tudo!
Menos estas lamechas e eternas repetições diferentes.

ETERNAS REPETIÇÕES DIFERENTES (escrito há cinco anos atrás)

Como se o álcool fosse a tinta de uma caneta,
Como que um motor de arranque a arrancar dos meus olhos os mais ínfimos detalhes de uma lágrima que sem ele, eu não conseguiria chorar.
Como uma muleta para um velho caminhar.
Nunca um vício, mas uma ajuda,
Uma pá que desenterra o mais morto de mim,
Uma continuação infinita do próprio fim.
O bonito e o feio e o mediano, o bem e o mal e o mediano,
Um olhar novo de um ceguinho,
Um cano, cheio de água fresca e potável que deixei pelo caminho,
Como se a genialidade esquecida, batesse de quando em quando á porta para dar um ar de sua graça.
O bem e o mal de qualquer raça.
Um doce pecado que me faz lembrar que a cruz existe,
Uma queda, um acidente, um despiste,
Uma campainha nos dias de maior solidão,
Uma doce destruição,
Uma chave,
Uma chave que me abre a máscara e mostra a fotografia queimada por um sorriso,
A chave de um tesouro escondido, iluminado, perdido nas sombras de um paraíso.
Um postal do mundo cheio de infinitas repetições diferentes,
Vou bebendo este jogo de mentes
Como nadar no gelado inferno nestas águas quentes,
E afundar-me neste mundo: uma máquina estúpida sempre a repetir o mesmo,
E nesta estúpida máquina sempre a repetir o mesmo
vou jogando,
vou vivendo,
vou bebendo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Até já! (As memórias de Jorge Luis Borges)

Lembro-me que o relógio batera as onze badaladas nocturnas e eu voltava A Jorge Luis Borges.
A velha estante empoeirada do Jorge.

Lembro-me que o reli durante cerca de duas horas (terá sido um século?)

Lembro-me de dar um gole de Cardhu e de ter vontade de fumar um cigarro
Procurei, em vão, o isqueiro para o acender

Lembro-me que estranhamente isto me terá dado uma ideia qualquer para um texto

Lembro-me de serem duas horas da manhã e de, depois de ter voltado ao Jorge Luis, não ter tido coragem para voltar a escrever

Lembro-me de passar uma hora e ainda não o ter conseguido (ou terá sido um século?)

À parte isto, sei que vou acender um cigarro quando encontrar o isqueiro

Sei que voltarei a encher o copo

Sei que isto me fará adormecer

Beberei para esquecer
e espero conseguir voltar a escrever, quando apagar da minha memória, as memórias de Jorge Luís Borges e do seu duplo.


Até já! (ou até daqui a uns séculos)

domingo, 16 de novembro de 2008

Entrevistas a mim mesmo II

Vou responder aquilo que tiver resposta
E dentro daquilo que tiver resposta vou responder aquilo que eu acho que deve ser respondido
E dentro daquilo que eu acho que deve ser respondido
Vou mentir

terça-feira, 11 de novembro de 2008

TABACARIA

Não basta ser para escrever
Não, não!
Eu acho é que, toda a vida é uma tragédia e as situações da vida uma comédia
As situações do dia-a-dia é que são uma comédia
Não me vou habituar!
Meu amor, se eu tivesse uma fábrica de cigarros chamar-lhe-ia Amor.
Uma anedota.
Dás por ti e não passas de uma anedota
Um cigarro curto, saboroso e mortal.
Dás por ti a seres um poema sobre o rancho,
Ainda assim tão trágico como um cigarro
Possivelmente saboroso mas com certeza curto e mortal
Mortal como um poema sobre a vida
Não me basta ser para escrever
É cigarral ter todos estes pensamentos trágicos e ser uma anedota nos entretantos.
Não me vou habituar!
Dou por mim a pensar
Se eu tivesse uma marca de Amor chamar-lhe-ia Cigarros
É difícil
Talvez seja preciso não ser para escrever
E não consigo deixar de dar por mim a pensar,
Se eu tivesse uma fábrica de sonhos chamar-lhe-ia Morte

Mil pensamentos profundos condensados numa frase

Não basta ser para escrever
Amor. Se eu tivesse uma fábrica de cigarros chamar-lhe-ia Amor

Entrevistas a mim mesmo

...não, não,
Eu acho é que,
A vida é uma tragédia
E as situações da vida é que são uma comédia
Isso sim...
As situações da vida é que são uma comédia

domingo, 9 de novembro de 2008

Hero of the day

"Tidal waves don't beg forgiveness
Crashed and on their way
Father he enjoyed collisions;
others walked away

A snowflake falls in may.

And the doors are open now
as the bells are ringing out
Cause the man of the hour is taking his final bow
Goodbye for now.
Nature has its own religion;
gospel from the land
Father ruled by long division,
young men they pretend

Old men comprehend.

And the sky breaks at dawn;
shedding light upon this town
They'll all come ‘round
Cause the man of the hour is taking his final bow

G'bye for now.

And the road The old man paved
The broken seems along the way
The rusted signs, left just for me
He was guiding me, love, his own way
Now the man of the hour is taking his final bow
As the curtain comes down I feel that this is just

G'bye for now."
Não me vou habituar!

sábado, 8 de novembro de 2008

MAN OF THE HOUR

Tenho todo o tempo do mundo

Não tenho tempo para gostar de nada

Só tenho tempo para ser atrasado mental e sorrir

Tenho tempo às vezes para fingir que sei algumas coisas e sorrir

Tenho tempo para ver passar o tempo

Tenho tempo suficiente para perceber que não tenho tempo para nada

Não tenho tempo para isto

Tenho todo o tempo do mundo para isto

Um dia hei-de brindar com o tempo

-À nossa!

Um dia tirarei um dia livre para ter tempo
Para perder tempo
Um dia terei tempo para isso

Tenho todo o tempo do mundo
Neste momento não tenho tempo nenhum
Porque o homem do momento leva o tempo todo

E isto é só um até já,
Sei que isto é só um até já!

sábado, 1 de novembro de 2008

Procuro cada vez mais as pequenas coisas da vida
Cada noite arranjo um porquê mais idiota para me conseguir levantar no dia aseguir
Só a falta de sono
Só a falta de sono me faz acordar
All you need is Love
All you need is Love, Love
Love is all you need
Alguém te chama com o pequeno almoço
dizes que não queres jantar
Onde está a rapariga dos olhos brilhantes?
All you need is Love
All you need is Love, Love
Love is all you need
Nunca mais escrevi
A página está em branco
Vou deixando a página em branco por um pequeno almoço
Só me levanto pelo pequeno almoço
Só como para conseguir fumar
Não há nada além de nada que me faça levantar da cama
All you need is Love
All you need is Love, Love
Love is all you need
Preciso de acordar
De dormir
Preciso de mais uma bebida
De uma revolução
Preciso de uma revolução
Perguntas,
-o que te faz acordar?
Eu eu não sei
Eu não sei
Eu sei
Eu sei que as pessoas têm pena de mim
Eu sei
Sei que perguntam,
-Quem é este, o que é isto?
Nada
Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
Minto
Sou mais que nada
Sou algo que incomoda mas não estraga
Uma pedrinha no sapato
Sou eu
Sou eu e isto basta para não ser nada
Tenho dez anos, vinte e um anos, cinquenta anos, oitenta anos, mil e trezentos anos
All you need is Love
All you need is Love, Love
Love is all you need
Quando eu era pequenino acordava à procura da menina dos olhos brilhantes