terça-feira, 16 de outubro de 2007

Olá
Vivo no fantástico conforto das casas e ruas do século XXI
Vivo numa pacata zona perto de Lisboa, em Portugal
Nunca estive em perigo de vida
Nunca vivi uma guerra
Nunca tive de confrontar qualquer poder político
Nunca, sequer, tive de dar um soco a alguém
Vivo no fantástico conforto das casas e ruas do século XXI em Portugal.
Ainda assim vejo a morte tão de perto
tão de perto como se tivesse de estar preso num campo de concentração a ver milhões de pessoas a morrer à minha frente
Fito-a nos olhos como se dormisse todos os dias ao seu lado
Olá, tenho vinte anos e vivo no fantástico conforto das casas e ruas do século XXI em Portugal
Moro perto da depressão que assombra aqueles que não têm nada para se queixar
Bebo para esquecer que estou vivo
Vivo tentado esquecer-me que estou bêbedo
Vivo com os cem anos que a minha alma me impôe e vivo-os com a força que duas décadas ainda têm
Moro na televisão das cores ardentes
de sorrisos pepsodent
no ninho das pessoas carentes que sentem a obrigação de ser feliz
Não vivi nada que possa ter medo de recordar
Não recordei nada que me envergonhe de ter vivido
Não tenho queixas absolutamente nenhumas deste fantástico conforto das casas e ruas do séculoXXI em Portugal
Vivo aqui
Estou preso aqui
Aqui no bairro da tragédia de simplesmente não ter tragédia nenhuma e ainda assim saber que a vida de nada vale a pena
A tragédia de usar perfumes caros e de só cheirar a morte
a tragédia de viver neste fantástico conforto das casas e ruas do século XXI em Portugal e ainda assim não ser feliz
Não sou feliz
Obrigado
Boa noite
Adeus

10 comentários:

stigmaticwinky disse...

que vida tão tentadora

Marta Queiroz disse...

Preferias viver noutra época?
Esta é muito mais 'pacata' :)
Beijo 'Luisinho'

Anônimo disse...

Estou a caminho... Abre o vinho... :P

Anônimo disse...

Tu não estás deprimido, estás sim triste e quem não está?
Entretanto os laboratórios farmaceuticos andam em alta. Olha, nada que um palco não te cure. ;)

Anônimo disse...

Está nada triste... É apenas a tendência artistico-depressiva a falar mais alto.

Anônimo disse...

Mostras-te profundamente onde e o que vivemos. Há quem simplesmente não se dê conta desta "prisão" esmagadora e, então, não reconhecem o Luís infeliz. És infeliz. transportas inquietude e vives em busca. Aposto que se todos partilhassemos essa infelicidade,mais facilmente econtrariamos o caminho para fecidade.
Um abraço da tua amiga infeliz.

Anônimo disse...

*Mostraste
*(...) a felidade

Anônimo disse...

*felicidade :)

Anônimo disse...

Mas eu continuo a dizer que sei qual é o antídoto. Palco.
Da vossa amiga infeliz mas também feliz.

bulletproof disse...

maus comentários mutilam o prazer de ler um bom texto.
é como ver os actores de trombas no final de um espectáculo.
abaixo os comentários, abaixo a liberdade de expressão.
e tenho dito.