domingo, 23 de março de 2008

Até Já

Há-de chegar o dia
Está a chegar o dia
Vou acordar muito cedo
Vou começar a escrever a obra que vai mudar tudo isto
terá muito de biográfico sim
um biográfico camuflado
Os nomes serão diferentes
A história um tanto ou quanto mais poética
Mas não
Ainda não
Preciso de deixar de ser como sou para escrever sobre o que sou
Muita coisa tem de mudar
Há que escrever sobre o que fui
Com a segurança do passado
A segurança de já não ser e ter provas disso
Hão-de falar disto por todo o lado
Vou responder
-Não, não sou eu. Não, nunca fui.
Hei-de responder com a certeza e a segurança de não ser e a mentira de nunca ter sido
Daqui a cem anos talvez sejam mais "lógicas" todas estas "palavras"
Daqui a cem anos vou virar o meu túmulo do avesso e vou-me rir às gargalhadas escondido de mim próprio
O antes
O agora
O depois
E o (talvez) muito depois:
O inevitável
Vou ser enterrado nu
E vou construir uma gravata com os restos das minhocas que me comeram
E vou morrer
Vou me rir às gargalhadas
Vou-me rir
Vou morrer às gargalhadas

3 comentários:

stigmaticwinky disse...

Ora... Então até já

bulletproof disse...

«O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente»

Anônimo disse...

"Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!"