segunda-feira, 31 de março de 2008

Até já

Não há nada que me apteça escrever
Vou sair um bocado
Vou pensar na vida
Vou beber qualquer coisa
À vigésima cerveja há-de me aptecer escrever qualquer coisa
Hei-de sentir essa necessidade
Volto para casa
Está tudo na mesma
O mesmo bloqueio
A mesma falta de vontade
(Ainda não bebi o suficiente)
Quando der por mim já bebi de mais
Vai ser sempre assim
Quando tiver cinquenta anos vou continuar bêbedo e a folha há-de continuar sóbria,
Imaculada, certa, limpa, virgem, bonita e tão inútil como estes cinquenta anos que passaram
Quando tinha vinte anos parecia tudo tão fácil
Uma e outra cerveja e as coisas saiam bem, bêbedas, certas, limpas, virgens, bonitas e, agora que penso nisso, tão inúteis como estes setenta anos que passaram.
Quando tinha cinquenta anos parecia tudo tão fácil
A feliz nostalgia do passado
A sóbria vontade de viver
A imaculada felicidade no lar
A vida certa, limpa e tão bonita que chegava a ser inútil
Quando tiver oitenta anos vou começar a escrever
Nessa altura hei-de ter vontade de escrever
Hei-de ter qualquer coisa para escrever
Até agora
Está tudo na mesma
Volto para casa
E não há nada que me apteça escrever

5 comentários:

stigmaticwinky disse...

estúpido conseguiste escrever.

*

Anônimo disse...

És lindoo nas palavras e puro nos sentimentos... gosto de ti e sei cm escreves bem....

Balbino disse...

São as portas que demoram o seu tempo a abrir.

Anônimo disse...

É isso mesmo, "Até já". Não escrevas, caga nisso, lá prós oitenta tens tempo. Vamos beber umas cervejas. Bora lá!

Barroso disse...

acho que vou beber uma cerveja... pois ainda tenho 20 anos e as coisas saem bem, bêbedas, certas, limpas, virgens, bonitas e ainda podem ser úteis!