domingo, 31 de agosto de 2008

THE CARPET TO IS MOVING UNDER YOU

Depois da adolescência só restam as memórias
O que fomos, o que fizémos, com quem estávamos
Penso que todos nós fomos heróis enquanto adolescentes
Há um tapete que nos foge dos pés
Um céu que nos foge dos lábios
Um sonho...
E foi só um sonho
Depois da adolescência só restam as memórias cada vez mais distantes desse sonho
Esse sonho tão distante que a nossa vista cansada mal consegue avistar
Há um tapete que nos foge dos pés
Uns lábios que fogem da nossa boca
Um pesadelo que tivémos na adolescência e no qual nos transformámos

Estou velho

Hoje o meu filho viu-me chorar
-Estás velho!

Eu velho?
Eu a chorar?
Eu, o velho no meu espelho
o velho com que tanto gozei quando ainda era um herói
Quando ainda tinha o céu no tapete e o tapete nos pés
Eu que fiz uma viagem por toda a europa no meu velho MG com os meus melhores amigos
Eu que engatei aquelas holandesas num acampamento em Berlim quando já não havia esperança de diversão nessa noite
Eu que tive todas as mulheres do Porto e arredores
Eu que era o rei da irreverência entre os meus amigos
Eu que deitava abaixo todos os sistemas
Eu que gozava com tudo o que se mexia
Hoje, eu, que nem me consigo mexer
Hoje, eu
Tão velho eu
Já nem vejo bem de um olho
A mesma mulher à trinta anos
O mesmo amigo: o meu vizinho à muitos anos
(nem ele sabe quem eu fui)
Hoje o meu filho viu-me chorar e gozou comigo
Hoje, eu de baixo do seus pés,
de baixo do seu tapete
Depois da adolescência só restam as memórias
Depois disso é a terra
Amanhã até ele estará de baixo da terra.
Nos meus lábios.

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