segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sonnet29

Se em desgraça com olhos do Mundo e Fortuna
Eu choro, proscrito e só, meu pobre estado
E o meu vão bradar os surdos céus importuna
E atento em mim e maldigo o meu fado,
Querendo-me igual a outro mais rico em esp'rança,
Seu par em amizades, como ele atraente
Invejando a este a arte, àquele o que alcança,
Com o que mais prazer me traz menos contente;
Neste pensar, que em desprezar-me se traduz,
Se penso em ti por grã ventura, então minh'alma,
Qual cotovia que emerge à primeira luz
Da terra escura, num cântico ao Céu se alumia;
Pois lembrar teu amor é estado de tal bem
Que nem por Reino eu trocara o que ele contém.




Tradução de José Henrique Neto

2 comentários:

miguel graça disse...

29.

De mal com os humanos e a Fortuna,
choro sozinho o meu banido estado.
Meu vão clamor o céu surdo importuna
e olhando para mim maldigo o fado.
A querer ser mais rico em esperança,
como outros ter amigos e talento,
invejando arte de um, doutro a pujança,
do que mais gosto menos me contento.
Se assim medito e quase me abomino,
penso feliz em ti e meus pesares
(qual cotovia em voo matutino
deixando a terra) então cantam nos ares.
Tão rico me é teu doce amor lembrado,
que nem com reis trocava o meu estado.

(trad. Vasco Graça Moura)

A Bruxa das PAPs disse...

O velho Will...

When, in disgrace with Fortune and men's eyes,
I all alone beweep my outcast state,
And trouble deaf heaven with my bootless cries,
And look upon myself and curse my fate,
Wishing me like to one more rich in hope,
Featur'd like him, like him with friends possess'd,
Desiring this man's art, and that man's scope,
With what I most enjoy contented least;
Yet in these thoughts myself almost despising,
Haply I think on thee, and then my state,
Like to the lark at break of day arising
From sullen earth, sings hymns at heaven's gate;
For thy sweet love remember'd such wealth brings,
That then I scorn to change my state with kings.